Até parece coisa pouca ao transeunte mais desatento, mas bem vistas as coisas até nem é: a noite Drum & Bass da Semana Académica do Algarve foi uma aposta arriscada por parte da organização. E ainda por cima foi uma aposta ganha. Pensem bem: numa região dominada em absoluto pelo House (e muitas vezes pelo '
manhouse' , usando as palavras de Mr. Nuno Forte), fora dos grandes centros urbanos onde há um espaço natural para a diversificação e públicos para todos os gostos, foi aqui mesmo em Faro que aterrou Nuno Forte, o nome mais consagrado do Drum & Bass nacional. E ainda para mais isto aconteceu no dia mais Forte do cartaz (passo o pleonasmo), com Patrice no palco principal. E foi ver os milhares de pessoas aos pulos pela Tenda Energética fora, descarregando vibrações positivas, dançando, saltando, gritando, suando. O set do Forte foi irrepreensível, com muito power, excelente selecção musical e muita técnica apurada ao longo de 10 anos de DJing. Alguém tem dúvidas? As fotos 'oficiais' ainda estão para chegar, mas basta perguntar a quem lá esteve - e, como vos digo, não foram poucos.*
Além do mais, foi o único DJ com direito a entrevista na RUAfm (por sinal excelente, que estará em breve no podcast Ao nascer da Lua), colocando a expressão 'Drum & Bass' na boca do povo, pelo menos durante os dez dias desta longa Semana Académica. Volto a dizer: não estamos em Lisboa, nem no Porto, isto é Faro. O único grande evento D&B na região foi com os DJs Patife, Marky e o mesmo Nuno Forte na 1a edição do Festival Transatlântico na Kadoc há... 4 longos anos atrás.
A lição só não vê quem não quer!!! Meus senhores, o público está aí. Ficou claro que um grande universo de gente quer coisas novas e está receptivo a experiências inovadoras. Não é que o D&B seja novidade em si, só o é para todo o Sul do país que, para assistir a DJ sessions regulares e com impacto, tem que se deslocar a Lisboa ou ao Porto (salvo as noites promovidas pelo Nordik e BA aqui em Faro, que têm mesmo assim um carácter esporádico e infelizmente uma relevância limitada). A desculpa para não se fazerem mais coisas assim parece ser a mesma velha lengalenga contada pelas bandas algarvias, presas pela sua própria inércia: a distância, o isolamento e balelas associadas. Tudo isso são tretas. Não há é vontade de arriscar, com medo de perder o tostão miserável da oferta costumeira que 'sempre-funciona-e-cá-vai-mais-
-do-mesmo-que-os-camones-gostam-da-gente-assim'.
Escusado será lembrar que são esses mesmos camones que enchem noite após noite os clubes mais inovadores na terra deles (Fabric, Heaven, e por aí fora), e que é da terra deles que vem (quase) toda a produção D&B.
Esta maneira pequenina de pensar faz-me lembrar um senhor que governou Portugal durante 40 anos e que, ironicamente (ou não) foi considerado o mais Grande Português num recente concurso fantástico da TV. Uma vez província, sempre província.
Mas voltando à vaca fria, parece-me escarrapachado que há por aqui público para fazer render uma aposta mais consistente em novos sons - não só dentro do D&B mas tb em outras correntes da música electrónica (breakbeat, volta que estás perdoado!), ou mesmo novas correntes musicais (Ludo, saiam da toca). Ou mesmo noutras formas artísticas, video, cinema, escultura, fotografia, pintura, you name it. E não estou só para aqui a arrotar postas de pescada, o Nascer da Lua faz o que pode para que isso aconteça.
Com a vinda do Nuno Forte, a organização da SA arriscou e ganhou.
Who's next?
Nota: como disse no texto, as fotos oficiais não estão ainda disponíveis. Ficam aqui estas da warm up session.
*A queima das fitas de Chaves teve uma iniciativa semelhante com o mesmo resultado positivo - FESTA! Ver aqui
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